2 Janeiro 2006 - Paris
Apesar
do frio se manter,
o dia nasceu com um sol radioso que transmitia uma outra imagem da cidade, com
muito mais cor, mais brilho.
Começamos
o dia por visitar Montmartre, no seu topo, ao norte de Paris, destaca-se a
Basilique du Sacré Coeur,
construída em 1875 com travertino branco trazido de Château-Landon. Essa pedra constantemente
calcita, o que permite que o edifício continue branco apesar das chuvas e da
poluição. Diferencia-se dos principais monumentos pela cor e, sobretudo, pelo
estilo, um misto de românico e bizantino que destoa dos monumentos mais famosos
de Paris, góticos, renascentistas ou neoclássicos.
A
solução decorativa provocou muitas discussões e até hoje muitos a ridicularizam
comparando-a pejorativamente a um bolo de noiva. Mas é indiscutível que ela
está numa posição das mais privilegiadas para oferecer uma vista panorâmica de
Paris. Essa constatação começa na esplanada em frente à igreja e se confirma
plenamente na visão que se tem a partir da cúpula, aberta para a visitas
públicas.
A
colina de Montmartre está voltada para a religiosidade desde há muitos séculos.
O cume já foi local de culto aos deuses gauleses, depois abrigou um templo
romano dedicado ao deus Marte. Tornou-se local de culto cristão após o martírio
de São Dionísio no século XIII, que teria sido decapitado na colina no século
XII, depois recebeu a Église Saint-Pierre de Montmartre, a mais antiga igreja
de Paris e que ainda se pode visitar; finalmente ali foi construída a basílica.
A
Basilique du Sacré-Cœur é um dos monumentos mais conhecidos no mundo e é o
segundo mais visitado de Paris pois recebe dois milhões de peregrinos ou
turistas a cada ano. No entanto, poucos conhecem a tortuosa história dessa
igreja e os múltiplos significados políticos, culturais e religiosos que a
envolvem, em grande parte escondidos pelo tempo.
Esta
igreja foi motivo de intermináveis controvérsias. Enquanto conservadores,
católicos devotos, reacionários e monarquistas a viam como monumento expiatório
diante dos “excessos” que vinham desde a Revolução Francesa e culminaram na
Commune de Paris, para socialistas, democratas e muitos republicanos radicais,
a basílica representava “uma permanente provocação à guerra civil”, como foi
proclamado durante apaixonados debates no Conselho Municipal em 1880. A
discussão ainda se arrastava em 1882 na Câmara de Deputados, quando o arcebispo
Guibert defendeu a obra e Georges Clemenceau a acusou de estigmatizar a
Revolução Francesa. A lei que autorizava a construção da igreja acabou por ser
derrogada, mas questões técnicas permitiram o progresso da obra, que escapou a
uma tentativa de interdição em 1897. Com grande parte da obra concluída e
servindo o culto católico há seis anos, a igreja tornou-se um fato consumado.
Atendendo
à solicitação do novo arcebispo apresentada por meio de uma carta no dia 5 de
março de 1873, a Assemblée Nationale aprovou uma lei no dia 24 de julho que
definia a obra como de “utilidade pública”. Alegava-se que seria dedicada ao
“culto do Sagrado Coração de Jesus”, mas era voz corrente que a igreja serviria
também de revanche contra os communards – militantes da Comuna, que haviam
executado o arcebispo de Paris, Georges Darboy. Os debates entre os deputados
foram acalorados e agressivos e a aprovação deu-se por estreita maioria, 382
votos a favor e 354 contra.
Os
que se opunham ferrenhamente à obra, não esqueciam os crimes cometidos pelos
que haviam massacrado a Comuna: os milhares de communards fuzilados sem nenhum
julgamento, os últimos resistentes que haviam sido soterrados vivos ali mesmo
em Montmartre, quando foram dinamitadas as galerias subterrâneas das minas de
gesso para as quais haviam recuado durante a luta, e outras barbaridades
cometidas na tristemente célebre Semaine sanglante, entre os dias 21 e 28 de
maio de 1871.
Mais
de 70 projetos foram apresentados num concurso oficial. O vencedor, Paul
Abadie, teve que respeitar algumas imposições: o local, a limitação dos custos
à verba de sete milhões de francos, a inclusão de uma cripta e uma escultura
monumental do Sagrado Coração, no lado externo, que tivesse ampla visibilidade.
A obra teve início em 1875, mas as ásperas disputas e as discussões apaixonadas
a arrastaram até 1914. A igreja só foi consagrada após o fim da Primeira Guerra
Mundial, em 1919, quando o tempo se encarregara de atenuar os conflitos que
edifício havia atiçado.
A
basílica tem o formato de cruz grega, ornada com quatro cúpulas, a mais alta
com 83 m de altura. O teto da abside central é decorado com um enorme mosaico,
o maior na França, cuja instalação durou de 1900 a 1922. Os vitrais foram
postos em 1903 e em 1920, destruídos durante bombardeios em 1944 e restaurados
após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1946.
Grande
parte da arte escultural que decora a igreja é da autoria de Hippolyte Jules
Lefebvre, incluindo o altar e duas esculturas equestres, no exterior do
edifício, que representam o rei Louis IX, mais conhecido como São Luís, e a
heroína Jeanne d’Arc.
O
órgão é de autoria de Aristide Cavaillé-Coll e pertencia ao Barão Albert de
L’Espée, um grande apreciador do instrumento. Após a morte do Barão e venda do
seu castelo, o órgão permaneceu guardado por dez anos até que foi transferido
para a basílica, onde foi inaugurado em 1919 por Charles-Marie Widor, Marcel
Dupré e Abel Decaux.
Terminada
a visita à zona de Montmarte apanhamos o metro até às proximidades de outro ícone
de Paris, a sala de espetáculos Moulin Rouge.
Foi
na Belle Époque que nasceu o Moulin Rouge, cabaré situado no 18° arrondissement
de Paris, no Boulevard de Clichy, ao pé da Colina Montmartre. O cabaré abriu as
suas portas em 1889, no momento em que se festejava o centenário da Revolução
Francesa e quando os parisienses inauguravam a Torre Eiffel. O moinho,
inteiramente revestido de vermelho, servia principalmente como identificação do
estabelecimento. Além da sua sala revolucionária, que permitia rápidas mudanças
de cenário, o cabaré abrigava no seu jardim um espaço para parque de diversões
e um elefante gigante proveniente da Exposição Universal. Conhecido
internacionalmente pelos seus teatros-revista e pelo French Cancan, o Moulin
Rouge tornou-se rapidamente, no final do século XIX, um grande local para as
farras parisienses. Nele se divertiam todos os tipos de pândegos, príncipes,
burgueses, artistas, escritores e um público popular. O pintor Toulouse-Lautrec
imortalizou a atmosfera do lugar em seus cartazes com a grande vedete La
Goulue.
Hoje,
o Moulin Rouge continua a ser uma grande casa de espetáculos. 600.000 pessoas
por ano assistem ao seu teatro-revista enquanto degustam um jantar gastronómico. O espetáculo compreende 100 artistas, 60 bailarinas, 1.000
figurinos de paetês, plumas e bijuteria, 800 pares de sapatos, um aquário de 40
toneladas de água e 5 serpentes. Na sala de 850 lugares, servem-se por ano
240.000 garrafas de champanhe. O cabaré é o maior comprador de champanhe do
mundo.
Não
entramos, apenas tiramos algumas fotos no exterior. Calculo que o preço do
programa jantar + espetáculo não fique nada barato.
Relativamente
próximo fica o Hard Rock Café, onde fomos comprar umas lembranças da nossa
passagem pela cidade.
Como
ainda não tínhamos tido oportunidade para subir à Torre Eiffel, passamos por lá
para ver como estava o movimento e caso não houvesse fila aproveitaríamos e subiríamos.
Como
estava uma fila considerável optamos por deixar a subida para o dia seguinte. Teríamos
de vir cedinho para não apanhar fila e não perdermos uma manha inteira ali
parados.
Acabamos
por jantar ali pelas redondezas antes de regressarmos ao hotel para a ultima
noite em Paris.
Até
amanha…